O comercial das tesourinhas do Mickey foi o mais insuportável da publicidade brasileira. Refiro-me a esse menino que, em 1992, repetia insistentemente: “eu tenho, você não tem”.
Poucos lembram, mas a campanha foi logo retirada do ar devido às queixas de telespectadores ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR). Alegavam, e com razão, que era muita covardia contra as crianças.
De um lado, pequenos com a sensação de inferioridade com relação aos demais que tinham a tesoura. De outro, pais que se sentiam coagidos a comprá-la.
Mesmo assim, o comercial ficou tempo suficiente para virar um bordão lembrado até hoje, assim como a vontade de mandar o guri enfiar a maldita tesoura naquele lugar.
Numa aula de educação artística, um coleguinha apareceu com a tal tesoura. Ele repetia sem parar a frase do comercial. Além de se exibir, não deixava que ninguém tocasse naquela preciosidade.
– Eu tenho, você não tem. Eu tenho, você não tem.
Fiz de conta que não dei importância e me concentrei na tarefa que a professora pediu. No final, tirei dez e ele amargou um seis. Não tive dúvida, peguei a folha, olhei para ele, apontei para a minha nota e comecei:
– Eu tenho, você não tem. Eu tenho, você não tem.