Esse era o melhor enfeite da casa da vó Ninha. As minigarrafinhas. Difícil apenas observá-las de longe. Lendas rondavam aquele minúsculo engradado da Coca-Cola.
A principal delas é a de que, em vez de refrigerante, havia veneno. A justificativa da vó foi convincente:
– O líquido mata os mosquitos. Por isso, as garrafas ficam aqui na instante.
Atiçou ainda mais a curiosidade. Queria apenas abrir para ver como era. Sendo Coca ou não, jamais beberia o conteúdo. Pensava que poderia estar com o prazo de validade vencido. Vai saber?
A solução era brincar escondido. Certa vez, resolvi tirar a tampa e solucionar de vez o mistério. Vinha muito grudada, por isso a necessidade de quebrá-la. Com bastante força, arranquei a ponta daquele diminuto recipiente. Decepcionante. Nada além de uma tinta preta revestia o vidrinho por dentro.
Não havia bebida nenhuma. Dizem que as mais antigas continham Coca de verdade. Arranjei Super Bonder, colei a tampa e devolvi ao lugar sem que ninguém desconfiasse.
Entendi que a história do tal veneno tratava-se de uma desculpa esfarrapada para que eu não brincasse com as garrafinhas e, por conseguinte, não as derrubasse. Mesmo tendo perdido a graça, houve um dia em que a vó me pegou no flagra.
– Não mexe aí. É para matar os mosquitos!
Respondi na lata:
– Só se for de vergonha!
Tadinha. Morreu sem nunca saber o que eu queria dizer.