A nossa casa sempre foi tipicamente gaúcha aos domingos. Ou o pai assava um churrasco ou íamos a uma churrascaria. Apesar de ainda ser bem guri, eu impunha uma condição: “se sairmos de casa, vou perder o Nações Unidas, então temos que deixar gravando para eu assistir na volta”. Só assim, não perdi nenhuma edição do programa que mais me marcou no SBT.
O Nações Unidas permaneceu no ar entre os dias 12 de abril de 1992 e 3 de janeiro de 1993, sempre apresentado por Gugu Liberato. Ao todo, comunidades de 16 países disputavam o grande prêmio do programa: um ônibus rodoviário totalmente equipado (tinha até videocassete) e passagens para o país de origem. Os índices do IBOPE variavam entre 15 e 17 pontos. Além disso, a atração era repleta de bons anunciantes como Arisco, Garoto, Toddynho, Pingouin, Arrozina, Scotch-Brite, Juvena, entre outros.
Japoneses, alemães, austríacos, coreanos, italianos, israelenses, árabes, holandeses, suíços, portugueses, espanhóis, chilenos, gregos, russos, poloneses e húngaros tinha desafios característicos de suas tradições. Por exemplo, lembro que a Holanda tinha a prova da corrida de tamancos; Itália propunha uma teste de quem gerava mais suco após pisotear uvas; Portugal desafiava para uma corrida de caravelas; tinha também prova da Alemanha relacionada a chopp; e assim por diante.
Algumas provas eram fixas, tais como Muro da Perseguição, Personagem Oculto, Rampa da Meleca, Jogo da Memória, Prova da Descendência e Sacos de Ouro, essa com o efeito gerado pela tecnologia do chroma key. As externas ocorriam na sede social do Corinthians com o comando de Ademar Dutra. A trilha musical eram versões de Chariots of Fire.

Tenho orgulho de manter contato com Homero Salles, diretor da atração. Sempre que lembramos algo sobre o Nações Unidas, percebo o orgulho que sente. “Foi o melhor programa que criei, produzi e dirigi na minha vida”, comentou, recentemente, num dos vídeos que postei na nossa fanpage.
Por falar em vídeos, há algumas semanas, foram publicadas íntegras das participações italianas no Nações Unidas. O dono dessas relíquias é Thiago Tomasini, filho de integrantes da equipe que partiu de Nova Trento, em Santa Catarina, para disputar o programa.
“Minha família inteira participou. Meu pai participava das provas externas e minha mãe das provas internas. No primeiro programa que participamos, que foi contra Portugal, eu e minha irmã fizemos a abertura com o grupo de dança típica italiana. No programa em que fomos eliminados, na semifinal contra a Suíça, eu ganhei a brincadeira da Garoto”, comentou.
No entanto, para faturar a montanha de barras de chocolate, ele teve que abrir mão de um outro desejo:
“Eu sempre fui palmeirense, mas também queria ir lá conhecer o Centro de Treinamento do Corinthians. Meu pai quase me convenceu a ir, mas eu quis ficar no estúdio, pois queria ganhar a promoção da Garoto e, naquele dia, acabei ganhando mesmo”, disse.

Além das gravações, Thiago dividiu comigo algumas fotos que guarda dos intervalos do programa.
“Uma vez, segui o Gugu até o camarim e não tinha segurança nenhum. Quando me viram lá dentro, me tiraram, mas o Gugu veio bater a foto comigo”, lembra.

Após final contra a Suíça, quem faturou foi o Japão, graças a uma competente equipe liderada pelo doutor Shudo Yasunaga, que, na época, presidia a Associação Cultural e Esportiva de Maringá (ACEMA). Na verdade, os vencedores fomos nós, os telespectadores, uma vez que fomos brindados com verdadeiras aulas de cultura e conhecimento geral a cada domingo.