Chocolate inesquecível
O gol do Caniggia
Mini garrafas da Coca

O gol do Caniggia

A professora Márcia deu-nos aula durante o ano de 1990. Estávamos na segunda série. Eu rondava os 8 anos. Na época, a Copa do Mundo na Itália despertava atenção.

Mas antes de falar em futebol, quero apresentar a tia. Assim a chamávamos. Pois bem. A tia Márcia exibia brilhosos cabelos loiros no estilo chanel, cortados rigorosamente iguais nos dois lados. Também não dispensava o batom rosa chiclé.

O brutamontes do noivo sempre aguardava por ela na saída. Olhava sério, não esboçava sorrisos e parecia não gostar muito de crianças. Dava medo. O oposto da professora afetuosa, que sabia lidar de um jeito especial com cada aluno.

Certa tarde, a tia propôs um trabalho sobre a Copa. Tarefa facílima para um menino que colecionava as figurinhas da Elma Chips. Logo aprendi a falar o nome difícil de um país, era a Tchecoslováquia, e soube a respeito de outro de nome simpático, a Costa Rica.

O dia da entrega da redação sucedeu ao da eliminação do Brasil naquele Mundial. Adaptei as frases para descrever a tristeza que o argentino Claudio Caniggia provocou na torcida brasileira. O sonho do tetra acabou no pé esquerdo deste carrasco.

Dias depois, recebi o texto de volta com uma nota dez, em caneta azul, que mais parecia obra de arte. Tia Márcia chamou-me até a mesa dela:

– Gustavo, parabéns pelo que escreveste. Tu sabes que fiquei tão impressionada que até mostrei para o meu noivo?

Duvidei por alguns segundos. Seria improvável que aquele grandão, com cara de poucos amigos, parasse para ler a redação de uma criança. Meiga, a professora, estaria falando para me agradar e incentivar. No entanto, ela seguiu:

– Meu noivo achou o máximo. Me elogiou por ter um aluno tão esperto, observador e que sabe escrever direitinho o nome daquele gringo. Caniggia, com dois gês. Mandou dizer que tu um dia serás jornalista e vais escrever em jornal.

Impressionante. O noivo brutamontes da tia Márcia tinha mesmo bom coração. Havia feito a leitura do meu trabalho. Além disso, hoje percebo que estava diante de um vidente de mão cheia. Na mosca! Acertou que eu me formaria nesta profissão.

Não sei o paradeiro dela, tampouco se chegaram a casar. Duas décadas depois, orgulho-me de ser o único cidadão brasileiro que tem boas recordações do Caniggia.

View Comments (17)
  1. caniggia, maradona, pra mim tudo farinha do mesmo saco.. uns nojentos.. e o farinhha nao foi trocadilho, viu? hhehe beijinhos

  2. Já repararam nos calções dos jogadores daquela época? Eram muiiiiiiitoooo curtos!!! Muito engraçado! Parabéns Gustavo, pela redação e pela profissão!

  3. É óbvio q eu não conheço o noivo da sua professora e nem tive acesso à redação, mas todos os elogios q ele te fez, assino embaixo. Leio mtos blogs de vários assuntos e te digo uma coisa. O teu é um dos melhores sobre essa linha de “voltar ao passado”. Eu viajo em minhas próprias lembranças e no caso desta do Caniggia eu me lembro q assisti ao jogo no SBT. O locutor Nivaldo Prieto (se não me engano era ele) narrou esse gol c/ voz rouca de choro, num tremendo de um esforço em nome do profissionalismo. O mascote virtual “Amarelinho” chorando e eu tb. Naquele ano te juro, comecei a me desinteressar da seleção. Em 94 só acompanhei a Copa por causa do Viola q jogava no Corinthians e foi a primeira vez q vi a taça ser erguida por um jogador brasileiro, apenas c/ euforia de uma novidade. Em 1998 e em 2002 desapeguei total. A Seleção se tornou um balcão de interesses e p/ mim perdeu a graça. Bjs

    1. Patthy, bacana o quanto pensamos parecido. Eu só fui me desapegar em 2002. Em 1998 ainda sofri com aquela “amarelada” do Ronaldo. Depois nunca mais senti o mesmo patriotismo pela seleção de futebol. Os próprios jogadores não nos fazem sentir mais a mesma paixão. bjs

      1. É verdade guri, nos entendemos mto bem até no esporte onde temos paixões diferentes e ao mesmo tempo iguais pq não gostamos dos times tricolores locais c/ aquelas camisas tipo pijama de listras rssss. E amanhã estamos no mesmo nervoso, vc c/ o Gre – Nal e eu c/ o Derby. Bjs

  4. BEM GURI,MEU FORTE NAO É JOGO…MUITO MENOS SELEÇAO.
    BRASIL COM UM GRANDE POTENCIAL EM JOGADORES,E QUE JUNTOS NAO FAZEM NADA,PODE SER POR ISSO MEU DESINTERESSE PELO FUTEBOL.
    DESSA COPA ME LEMBO MUITO POUCO DAS PARTIDAS,MAIS DE CANIGGIA ME LEMBRO MUITO BEM,COMO ERA COPA DO MUNDO LEMBRO QUE TODOS LÁ DE CASA SE REUNIRAM P/ ASSITIR A TAO FOMOSA COPA DO MUNDO,ERA UMA FESTA…
    PIPOCA REFRIGERANTE,E A TENSAO EM VER O BRASIL JOGAR…
    LEMBRO QUE FOI NESSA COPA QUE A MAIORIA DOS HOMENS LÁ DE CASA CHORARAM AO VER O BRASIL PERDER SUA CHANCE DO TETRA NOS PÉS DE CANIGGIA,E FOI UMA CENA QUE FICOU P/ SEMPRE REGISTRADO EM MINHA MENTE.
    LEMBRANÇAS A PARTE …PARABENS PELO BLOG GURI
    ADORO PARTICIPAR DELE.

    1. Imagino a sensação. No tetra mesmo, em 1994, todos estavam com o grito engasgado. Imagina, sem título desde 70. cada decepção doía… 82 eu estava nascendo, mas dizem que também foi muito difícil de engolir a derrota para a Itália.. bjs

  5. Querido, eu realmente não me lembro dessa professora Márcia! 🙁
    Será que fui aluna dela?
    Na segunda série a minha professora era a Josenara! lembra??? Bjo

  6. Bah! Eu, assim como a Pathy, assistia pelo SBT e me irritava com o Amarelinho, rsrs. Eu lembro que o Pepsinho (bonequinho oferecido pela Pepsi com tampinhas e mais uns trocados) e eu dei um tapa nele que caiu. Fiquei indignado com aquele gol. Enfim… Copa de 1990 e o álbum plástico azul da Elma Chips. Minha primeira figurinha foi do Egito!! Abraços

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