Jogando bingo

Que saudade dos tradicionais bingos de praia, daqueles que a gente marcava os números com grãos de milho. Até criança entrava. Eu não perdia os de Tramandaí.

O sorteio era lento. O próprio locutor girava o globo, deixava cair a bolinha e anunciava a dezena:

– Letra B, solito 2! Zero Dois!
– Letra N, trinta e sete! Três Sete!
– Letra 0, rasos 80!

Desconfio que você estava quase esquecendo que as cartelas antigas continham as letras da palavra bingo no topo. Abaixo delas, ficavam as linhas, colunas e diagonais que poderiam render uma graninha excelente.

Superstições liberadas. Antes de cada rodada, as pessoas tinham a chance de escolher os números com os quais jogariam. As cartelas eram folhas de ofício xerocadas, devolvia-se antes de ir embora.

Por essa razão, não era permitido riscá-las. A marcação dos números dava-se através de milhos ou feijões. Algumas tias mais experientes e viciadas levavam pastilhas coloridas de plástico. Profissionalíssimas!

Jogávamos e ganhávamos. Notas e notas de cruzados sobre as mesas. Havia um garçom argentino chamado Pancho. Passadas as primeiras vitórias, trazia-nos batatinhas, balas e refrigerantes.

Entretanto, eu era tímido demais para gritar bingo e vencer o jogo. Quando estava prestes a ficar “pela pedra boa”, fazia sinal para minha mãe e corria para o banheiro ou para a rua. Ela terminava de preencher.

Ficava envergonhado não apenas por me tornar alvo das atenções naqueles segundos como também por frustrar a expectativa de dezenas de pessoas empolgadas e loucas para ganhar. Quanta crueldade.

Até que houve um dia em que me atrapalhei. Quando percebi, restava apenas o número 16 para fechar. Avisei a mãe, levantei, porém não deu tempo de escapar. Na bola seguinte, brilhou o 16. Não tive escolha:

– Bi… bi… bingo!!!